Todos os anos, são produzidas 100 mil milhões de peças de roupa novas, uma quantidade que representa o dobro do que era produzido no ano 2000. As matérias primas para produzir roupas são responsáveis pela destruição de habitats e diminuição da biodiversidade - a viscose, por exemplo, é um material produzido a partir de árvores, e tem contribuído para a desflorestação de florestas ancestrais no Brasil e na Indonésia. Após serem descartadas, as roupas acabam a poluir oceanos - sendo a principal fonte de poluição de microfibras tóxicas no mar, das quais há 1,4 quadriliões - ou acumuladas em aterros - cerca de 5% de todo o lixo em aterros é composto de roupas. Além de tudo isto, desde o desastre de Rana Plaza no Bangladesh em 2013, onde mais de mil pessoas perderam a vida, cada vez estamos mais conscientes das condições muitas vezes não só precárias como perigosas em que as roupas são fabricadas.
Com todo este contexto, quem defende a sustentabilidade dificilmente pode continuar a comprar fast fashion com a consciência tranquila. Mas isso não quer dizer que seja preciso abdicar de um estilo pessoal único ou de uma apresentação cuidada - antes pelo contrário.
Com todo este contexto, quem defende a sustentabilidade dificilmente pode continuar a comprar fast fashion com a consciência tranquila. Mas isso não quer dizer que seja preciso abdicar de um estilo pessoal único ou de uma apresentação cuidada - antes pelo contrário.
Precisamos mesmo dessa peça de roupa?
Uma das primeiras perguntas a fazer por quem quer tornar-se mais consciente do ambiente no seu guarda-roupa deve ser: "Preciso mesmo?" Devido aos preços baixos da fast fashion, as compras podem acontecer por impulso, e acabas por adquirir peças que são semelhantes a outras que já estão no armário.
Esta nova peça vai preencher algum vazio nos outfits? Ou é igual a tantas outras que já tens? Será que não poderias, em vez de comprar uma peça nova, tentar usar mais a peça semelhante que já está em casa à tua espera?

Esta peça já existe em segunda mão?
Depois de decidir que é mesmo uma peça assim que precisamos para o guarda-roupa, as opções não são apenas lojas de fast fashion. Multiplicam-se as oportunidades para comprar em segunda mão, tanto diretamente a quem as usou antes, que pode vender em inúmeras plataformas para tal, como nas lojas cada vez mais omnipresentes de roupa em segunda mão e vintage.
Se as lojas físicas em segunda mão se multiplicam - desde a Retrocity, A Outra Face da Lua e Ás de Espadas em Lisboa, até à Mão Esquerda Vintage e a Mon Père Vintage no Porto - também há cada vez mais oportunidades para comprar em segunda mão digitalmente, em mercados digitais como o OLX, o eBay, o Depop, e até o Instagram (com uma dica especial - a hashtag #vendasem2mão).
Muitas vezes, itens das coleções recentes de muitas cadeias convencionais até já estão neste mercado - onde a compra não beneficia a produção de novas roupas e desperdício -, e em vez disso oferece uma alternativa tanto a quem já não quer uma determinada peça, como a quem quer comprar sem gastar muito dinheiro. Por outro lado, com os estilos vintage cada vez mais em voga, pode até ser neste tipo de loja que aparecem as peças mais raras e apetecíveis.
Então e a roupa que já não uso, o que lhe posso fazer?
Se a roupa que já não usas não está em condições de ser usada por outros, tens imensos truques para aprender no YouTube, desde transformar t-shirts e camisas velhas em lindos tapetes de trapos, até às pequenas renovações simples que podes fazer para aproveitar o tecido de roupas velhas.
Queres outra solução?
Se as tuas roupas ainda estão em boas condições e não as vestes porque mudaste de peso ou de estilo, ainda podem fazer alguém muito feliz! Recomendamos que perguntes na tua junta de freguesia e/ou Câmara Municipal, para saberes onde entregar roupa que chegue mais depressa aos mais carenciados. Outra solução possível é oferecida pelo projeto Dar e Receber, onde cada um pode colocar aquilo que tem para dar, e ser ligado a alguém que precisa desse mesmo bem!
Um mercado de roupa mais circular
Cada vez mais o futuro se mostra circular: os materiais que o planeta produz são finitos, e temos que reaproveitar ao máximo aquilo que já temos em circulação. A indústria da moda não pode ser uma exceção. Reduzir as compras de roupa, usar mais as roupas que já se tem, e adquirir as peças que se precisa em segunda mão - são três dicas que podem ser o mote para começar já a tornar o estilo pessoal mais sustentável. Deixa-nos as tuas sugestões em caixa de comentário sobre como nos podemos vestir melhor (para o planeta).