TikTok: a mudar o mundo, 15 segundos de cada vez

Ainda te lembras da primeira vez que ouviste falar do TikTok? Fazemos um raio x à rede social que está a conquistar o planeta.

É bem possível que o TikTok te pareça tão ancestral como acreditar que a Terra é Plana, mas a sua omnipresença nos smartphones do mundo inteiro só começou em 2018. Como quem não quer a coisa, contagiou os mais novos primeiro e, a pouco e pouco, os mais velhos. A pandemia foi o catalisador universal que faltava para a app desenvolvida na China começar a conquistar o mundo.

Num artigo publicado no New York Times em 2019, o jornalista John Herrman dizia que este “poço infinito de pequenos vídeos pode ser muito difícil de ver, muito engraçado e, frequentemente, muito cringe (ou vergonhoso, numa tradução livre da palavra)”. Numa passagem rápida pela app, onde som e movimento trabalham lado a lado para criar a sensação de um assalto imediato aos sentidos, parece-nos até possível sentir tudo isto ao mesmo tempo.

Ainda que a sua aparência seja em tudo semelhante às redes sociais que já conheces – do feed em modo scroll infinito, até às hashtags ou às "celebridades" nascidas nesta rede –, o verdadeiro motor do TikTok é descrito por muitos como mais máquina do que homem. Que é como quem diz, soube aprender com todos os falhanços de Twitter, Facebook e Instagram e construir uma experiência baseada em algoritmo mais eficaz do que os seus concorrentes.

Imagina uma versão do Facebook capaz de te encher o feed ainda antes de adicionares amigos ou seguires páginas - isso é o TikTok. O feed aqui chama-se "For You" e não mostra posts de amigos ou seguidores, mas sim conteúdo semelhante àquele com que interagimos. A cada início de sessão, o algoritmo do TikTok estuda atentamente cada passo que damos, cada vídeo de que gostamos. O resultado é que nunca deixa de haver conteúdo novo para te mostrar.

Esta liberdade e agilidade estendem-se à forma como os utilizadores interagem entre si. À semelhança do Twitter, por exemplo, os posts de TikTok são públicos e estão quase sempre ligados a uma enorme rede de utilizadores – seja pelas hashtags, porque fazem parte de um challenge ou simplesmente porque usam uma canção famosa como banda-sonora. De certa forma, o TikTok encoraja os seus utilizadores a saltar de audiência em audiência, a procurar públicos globais e em constante mudança, ao invés de dependerem de um grupo restrito de amigos para a dose diária de likes, comentários e partilhas.

Memes unidos, jamais serão vencidos


Talvez agora te pareça menos estranho ver utilizadores da Malásia, Espanha e Colômbia a recorrer a discursos do filósofo Alan Watts sobre o amor à primeira vista nos seus vídeos, ou encontrar adolescentes nascidos em 2000 a interpretar êxitos de 1984 como se tivessem saído ontem. “Mais do que dizer alguma coisa em concreto, estas pessoas estabeleceram um conjunto de referências culturais em comum para comunicar sem dizer palavras”, explica Emily van der Nagel, investigadora da Monash University.

O sentimento de pertença e participação em comunidades é tão real e importante no mundo físico quanto no mundo virtual. Por isso, não é totalmente descabido pensar numa certa dimensão de performance existente em todos os utilizadores do TikTok. Sejam mais envergonhados ou mais extrovertidos, ninguém aparece impávido e sereno nestes pequenos vídeos – e este é um traço comum e identitário dos utilizadores espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Ainda que muitos vejam o TikTok como uma evolução natural das redes, a verdade é que esta noção de identidade global – aliada à segurança que traz a pertença e participação a uma comunidade - é fundamental para perceber como é que o TikTok se tornou no monstro omnipresente de hoje em dia.

As contas que o TikTok fez


Em dois anos, são 800 milhões de utilizadores ativos e a gerar conteúdo em tamanho bite-size literalmente a cada segundo. No universo TikTok, há estrelas instantâneas a nascer (e a desaparecer) todas as semanas e vídeos a viralizar todos os dias. Users oriundos de nichos tão específicos como a noise music, que recontextualizam epic fails, challenges e memes para a sua realidade paralela. Nos Estados Unidos da América, o TikTok esteve debaixo de fogo por permitir que um grupo de adolescentes partilhasse dicas para melhor roubar lojas. E no rocambolesco 2020, o TikTok fez com que uma canção com mais de 40 anos voltasse às tabelas e pode até ter contribuído para mudar o rumo das eleições americanas. Mais recentemente, vídeos que mostravam bebidas personalizadas (e bem complexas) no Starbucks levaram a uma onda de pedidos extravagantes que chatearam empregados e clientes.

O TikTok já não é só uma fonte de entretenimento, ou uma forma de gerar dinheiro e fama rápida na internet. Até quando é que te vais agarrar aos teus podcasts e resistir a esta força?
Diz coisas. Estamos aqui para ti.
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