O mundo em que David Attenborough nasceu já não existe

Quando um jovem de 95 anos abre conta no Instagram, o que é que isso diz do estado do mundo? Provavelmente, que é cada vez mais difícil salvá-lo.

Passámos os últimos 60 anos a ver "o mundo vivo em todo o seu esplendor" através dos seus olhos e palavras. Percorremos ao seu lado mais de 39 países e aprendemos o nome e as cores de mais de 650 espécies animais. E vimos como esse mundo foi desaparecendo e mudando lentamente sem que ninguém fizesse nada contra isso. Bom, ninguém menos ele, David Attenborough, que aos 95 anos fez um derradeiro aviso às gerações presentes e futuras com um tocante e alarmante documentário: “O mundo natural está a desaparecer”.

Se há pessoa no mundo com autoridade para fazer esta afirmação, essa pessoa é David Attenborough. Afinal, o naturalista britânico nasceu em 1926, numa altura em que grande parte da biodiversidade da Terra ainda estava por descobrir - e que o próprio sabia que não podia deixar passar despercebida.

Com apenas 24 anos, esta postura de eterno curioso haveria de o levar à BBC e daí aos quatro cantos do mundo, onde iria ver de perto – e mostrar aos espectadores lá em casa – toda a magnitude da diversidade que popula o mundo. O seu trabalho em prol da natureza é de tal ordem que hoje existem pelo menos 20 espécies nomeadas em sua honra, como a Palaina attenboroughi, o Trigonopterus attenboroughi ou a Sitana attenboroughii.

À beira do ponto de não retorno?


Mas quase 70 anos e milhares de quilómetros depois, isto não chega. Algumas das espécies com o nome de Attenborough extinguiram-se poucas décadas depois da sua descoberta. Há quem pense que a Terra é plana. O planeta está sobrepovoado e os seus recursos à beira de se esgotar. E Attenborough, que nas últimas décadas tem assistido na primeira fila à espiral descendente do nosso planeta, decidiu fazer um documentário para nos tentar salvar a todos.

O homem que agora é feliz a ver chegar a primavera ao seu jardim não tem papas na língua: "o modo como nós vivemos agora está a levar a biodiversidade a um declínio. É a verdadeira tragédia do nosso tempo".

A mudança ainda está nas nossas mãos


Apesar das bandeiras vermelhas que vê surgir um pouco por todo o lado, o britânico recusa-se a deitar a toalha ao chão. Além do documentário que tem batido recordes na Netflix, Attenborough juntou-se ao Instagram (para quando o TikTok, meu caro?) e promete não parar enquanto não nos contagiar com o seu inesgotável otimismo. "Ainda há tempo para desligar os motores. Sabemos como chegámos aqui, conhecemos a história do nosso grande erro. Se agirmos já, podemos corrigi-lo".

Parece fácil? É porque é: mudar o mundo ainda é possível e está ao alcance de todos nós - basta querermos. Como dizia D'artagnan, "um por todos e todos por um".

Muitos de nós conhecemos a Terra como ela é por causa de David Attenborough. E se todos fizermos por isso, talvez a consigamos manter assim por muito tempo. E no fim do dia, talvez a Terra possa finalmente agradecer a David Attenborough por tudo.
Diz coisas. Estamos aqui para ti.
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