Vai demorar algum tempo até conseguirmos quantificar tudo o que está a mudar na nossa vida durante a pandemia. Mas ao ler as notícias sobre a degradação da velocidade da internet, o aumento de utilizadores de Spotify e um pico global no consumo de dados móveis em smartphones, é tentador concluir que passamos mais tempo ligados do que nunca.
Estamos cada vez mais conectados uns aos outros e ao mundo, e a sede de auscultação do que se passa lá fora é constante. O que torna ainda mais difícil atravessar uma era de hiperligação, exatamente ao mesmo tempo que distanciamento e isolamento deixaram de ser uma opção para passarem a fazer parte do nosso dia-a-dia.
Se não gostas de fazer filmes e o mundo lá fora não te diz nada, experimenta esta lista de supimpa conteúdo áudio – é ainda melhor do que ter alguém a segredar-te ao ouvido que vai ficar tudo bem.
Estamos cada vez mais conectados uns aos outros e ao mundo, e a sede de auscultação do que se passa lá fora é constante. O que torna ainda mais difícil atravessar uma era de hiperligação, exatamente ao mesmo tempo que distanciamento e isolamento deixaram de ser uma opção para passarem a fazer parte do nosso dia-a-dia.
Se não gostas de fazer filmes e o mundo lá fora não te diz nada, experimenta esta lista de supimpa conteúdo áudio – é ainda melhor do que ter alguém a segredar-te ao ouvido que vai ficar tudo bem.
Dá-me música que eu gosto!
Bruno Pernadas – Private Reasons
As razões que levaram Bruno Pernadas até este disco podem muito bem ser privadas, mas o gáudio que esta música gera deve ser bem público. "Private Reasons", tal como os seus antecessores, é um fascinante exercício sobre como a música deve ser tocada, vivida e entendida: sem géneros, sem fronteiras e acima de tudo, sem preconceitos. Nesta Torre de Babel imaginada pelo compositor português canta-se em inglês, coreano e até numa língua imaginária - quase sempre banhadas em vocoders que dão uma dimensão alienígena ao que é, para já, o disco com mais calor humano por minuto que ouvimos em 2021. O resultado é um caleidoscópio que gira com todas as cores da pop, do funk e do afrobeat. Uma mistura açucarada, de tons vintage e uma leveza que já sabemos que só vamos encontrar nas canções de Bruno Pernadas. Um antídoto para os nossos tempos.
Pop Dell'Arte – Transgressio Global
São poucas as bandas em Portugal que ao longo dos últimos 30 anos pisaram com tanta naturalidade o palco do Centro Cultural de Belém como o do Big Show Sic. Mas há pelo menos uma, chama-se Pop Dell’ Arte e acabaram de festejar qualquer coisa como 30 anos de carreira com o novo "Transgressio Global". Disco carregado de requinte e atrevimento, é um atestado de vitalidade a um quarteto que não desiste de criar roupagens à medida do que os Pop Dell’ Arte querem ser a cada nova fase da carreira. Neste disco, ouvimo-los em equilíbrio perfeito entre a exuberância do rock psicadélico dos anos mais recentes, e a candura dadaísta da exploração eletrónica que sempre os definiu.
Sault - Untitled (Black Is)
É possível manter o anonimato nos tempos que correm, em pleno auge da tecnologia, da globalização e da hiperconetividade? Com quatro discos que encapsulam as lutas, tumultos, e reivindicações (mas também a esperança, a alegria de dançar e a felicidade) que a população negra mundial viveu nos últimos dois anos, os Sault querem-nos fazer crer que sim. São várias pistas que apontam para a identidade do grupo, mas o que importa aqui é a sua música. Música de revolução pacífica, algures entre o funk e o kraut, perfeita para deixar corpos e mentes em ebulição. Mas também há espaço para a introspeção, para pensar o que é ser negro neste século e para deixar entrar a luz que parece dizer "vai ficar tudo bem". Dancemos.
Taylor Swift - folklore
E de repente, Taylor Swift surge da neblina e oferece-nos… um álbum de black metal? É verdade que capa de folklore deixou muitas cabeças a girar e até valeu algumas punchlines bem conseguidas em diferentes cantos da internet. Mas não é menos verdade que a música de folklore é ao mesmo tempo a melhor que Taylor Swift já escreveu e o antídoto perfeito para um ano conturbado. Escrito em isolamento, deixa de lado os refrães orelhudos e bangers pop, que são trocados agora por histórias contadas com delicadeza, momentos evocativos e escritos a filigrana e acima de tudo, um sentimento de satisfação como há muito não lhe ouvíamos.
Tristany – Meia Riba Kalxa
O verão de 2020 fazia render os primeiros raios de sol a sério e os primeiros ares de liberdade, quando Tristany largou uma bomba chamada Meia Riba Kalxa. Surpresa maior numa constelação cada vez mais brilhante do hip-hop nacional, Tristany "fala sobre realidades inviabilizadas, marginalizadas e por vezes romantizadas" através de uma verve afiada e produções carregadas de ginga e magia. Vale a pena caminhar pela multiplicidade de ritmos e sons entre Portugal e Angola, representando todas as culturas que esta junção carrega. É fogo.
Diz-me aquilo que eu quero ouvir!
Fumaça
É difícil descrever melhor o Fumaça do que como ele se descreve a si próprio. "O Fumaça é um projeto de media independente, onde se fala sobre a sociedade com quem quer falar sobre ela", lê-se no site do projeto. Produzido por uma equipa de sete fundadores, o podcast foi lançado em junho de 2016, com o objetivo de servir de contraponto à comunicação social tradicional. Usar a transparência do áudio para "escrutinar a democracia" é então o objetivo do Fumaça, que já se expandiu para um novo projeto separado, o podcast Rua do Mundo, com Bernardo Pires de Lima, Mónica Ferro, Rui Tavares e correspondentes internacionais que contam o que se passa pelo planeta fora na política.
Working It Out with Mike Birbiglia
Podcast killed the video star? Olhando para as tendências auditivas do mundo, é bem possível que sim. A culpa não é toda de Mike Birbiglia, mas é bem provável que tenha ajudado. Working It Out é o primeiro podcast deste "comediante de comediantes" – se ainda não viram os especiais de comédia no Netflix, não sabem o que perdem –, onde Mike convida alguns dos seus colegas para uma conversa informal que inclui memórias nostálgicas, sketches em construção e muita solidariedade social. É para ouvir com um sorriso aberto.
Interruptor
A cultura nacional atravessa uma crise sem precedentes. O setor esteve praticamente parado durante um ano e ainda há mais perguntas no ar do que respostas no papel. Um cenário que dá importância redobrada ao nascimento do Interruptor, uma revista multimédia que também faz as vezes de podcast e que, nas suas próprias palavras, "olha para o mundo pelas lentes da cultura, tentando que nunca fiquem embaciadas". Se alguma vez se perguntaram para que serve a cultura, deixem que a Rute Correia vos responda.
Extremamente Desagradável
Começou no Canal Q, andou pela Antena 3, mas agora é na Renascença que lhe dão espaço para ser "Extremamente Desagradável". Joana Marques apresenta-se todos os dias de manhã no éter da rádio nacional, de língua afiada, energia inesgotável e vontade de mudar o mundo atrás do microfone. É a dose de boa disposição ideal para nos fazer sorrir a qualquer hora do dia.
Radiolab
Se sempre se perguntaram como é que o mundo funciona realmente, Radiolab é o podcast para vocês. A sério: não há praticamente nenhum tema que não tenha sido debatido neste podcast. "Quanto custa fazer dinheiro?", "Como é que os pássaros encontram o caminho para casa?" ou "O que é que matou os dinossauros?" são apenas algumas das perguntas que o programa apresentado por Jad Abumrad, Lulu Miller e Latif Nasser tentou responder ao longo da última década – sempre com muito humor à mistura.